Disque Denúncia


Linha Verde entrevista Coronel José Maurício Padrone


Hoje o tema da entrevista do Linha Verde é relacionada aos balões e os perigos que eles causam. Para isso, procuramos o Coronel José Maurício Padrone, responsável pela Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais (CICCA), órgão da Secretaria de Estado do Ambiente.

16/06/2016
Linha Verde entrevista Coronel José Maurício Padrone

- Coronel Padrone, há quanto tempo o senhor atua na defesa do meio ambiente? Quais os órgãos pelos quais o senhor já trabalhou?

R= Mesmo sendo oficial da PM, eu já atuava há muito tempo nos movimentos ambientalistas e ano de 1994, ainda capitão da PM, fui transferido para o Batalhão Florestal. Em 01/01/207 criei e estruturei a Cicca (Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais), órgão da Secretaria de Estado do Ambiente e em 2008 fui para o Ministério do Meio Ambiente como assessor especial do Ministro Carlos Minc. A partir do ano de 2009, fui nomeado Diretor responsável pelo Combate ao Desmatamento da Amazônia e em 2010 voltei para a Cicca, onde permaneço até hoje.

- Quais os perigos envolvendo balões?

R= Nesse período de abril até outubro, o ar está mais frio e a umidade baixa, propiciando um vôo maior do balão. Ele alça vôos mais altos e longos. Justamente é nessa época que as pessoas insistem em soltá-los. A consequência trágica é que a nossa mata está completamente seca, o que propicia incêndios florestais de grandes proporções. Quando o balão cai no meio da mata, dificulta o acesso dos bombeiros e dos guardas do Inea. Muitas das vezes o incêndio florestal tem que ser combatido lançando água por helicóptero, o que encarece absurdamente a operação.

- Os balões chamados de ecológicos podem ser soltos? Ele oferece que tipo de risco à população?

R= Em minha opinião, o principal problema em relação aos balões ditos "ecológicos", além do perigo ao tráfego aéreo e o estímulo para os grupos de vândalos que fazem o resgate dos balões, é que os órgãos de repressão não farão mais apreensões nos momentos de confecção e transporte dos balões para o local de soltura, pois os baloeiros farão e transportarão os balões em locais distintos das buchas de fogo. Caso haja qualquer fiscalização, eles vão alegar que aqueles balões são "ecológicos", mas na verdade as buchas serão colocadas no momento da soltura. A maioria dos baloeiros gosta de pendurar bandeiras festivas de feriados tradicionais e até mesmo cangalhas com fogos de artifícios e somente o balão à fogo tem força suficiente para levar tais adornos.  

- Pela sua experiência, por que há esses festivais de balões e o que motiva os baloeiros?

R= Os balões realmente chamam muito a atenção, alguns são verdadeiras obras de arte. A motivação dos baloeiros é que os balões, além de bonitos, têm que alçar vôos mais longos. Seria muito mais útil se o baloeiro pudesse expor tais obras sem oferecer risco de vida às pessoas e aos patrimônios públicos e privados. 

- Desde quando passou a ser considerado crime ambiental a soltura, fabricação e comercialização de balões? Por que quando o baloeiro é pego, ele não fica detido ? O que falta ?

R= A Lei de crimes ambientais é de fevereiro de 1998, quando essa atividade passou a ser considerado crime. O crime ainda é considerado, por incrível que pareça de pequeno potencial ofensivo, então a pessoa não tem a pena privativa de liberdade. Ele paga uma fiança e responde em liberdade. É a certeza da impunidade. A fiscalização solicita aos legisladores que essa pena seja agravada porque a sociedade não tolera mais essa atividade.

- Existe um perfil para o baloeiro?

R= O baloeiro não tem um perfil próprio. Muitos são trabalhadores que confeccionam balão nas madrugadas, mas também já identificamos e prendemos criminosos procurados pela justiça, principalmente nos grupos de resgate de balões, que são pessoas em grupos grandes, armados, que fazem de tudo para pegar um balão caindo. Eles violam domicílio, quebram residências, são agressivos e representam um verdadeiro perigo para a sociedade.  

- Quando um balão cai aceso em uma área de mata, de floresta, como é feita a captura dos balões por parte dos órgãos operacionais? Esse resgate é fácil?

R= Quando um balão cai na mata, geralmente é um local de difícil acesso ou até mesmo inacessível, pois os grupos de resgate não conseguem capturar. O problema se concentra aí, pois se é difícil para os grupos de resgate, também será difícil para os bombeiros e guardas parques do Inea e o combate passa a ser mais demorado e muito mais caro. Muitas vezes, somente com o uso de um helicóptero podemos apagar o fogo e até apreender o balão. O tempo que leva para a chegada e combate ao fogo é fundamental pois geralmente quando mais rápido se combate as chamas, mais rápido ela se extingue.

- Com toda a sua experiência, qual foi a pior ocorrência envolvendo balões que o senhor já trabalhou?

R= Na final da década de 1990, eu estava de serviço de oficial de dia no Batalhão Florestal e recebemos uma denúncia sobre um festival de balão no bairro de Tenente Jardim, em São Gonçalo. Partimos para o local com duas equipes e quando chegamos, por volta das 3h da manhã, verificamos que muitos balões estavam prontos para serem soltos. Procedendo à apreensão dos balões, houve um enfrentamento com os participantes do festival (em número muito maior às nossas equipes) e iniciou-se uma confusão generalizada e muitos estavam, inclusive alcoolizados. Tivemos que apreender os balões e sair rapidamente do local, pois todas as pessoas que estavam soltando e assistindo a soltura se rebelaram contra os policiais.

- Qual a importância do projeto Linha Verde no que tange esse assunto? As denúncias anônimas que chegam ao Linha Verde facilitam o trabalho dos órgãos de repressão?

R= A população não tolera mais essa atividade criminosa e a arma da população é o  Linha Verde, do Disque Denúncia. As denúncias que chegam são mais qualificadas e as informações são precisas. Graças a essas denúncias que foram encaminhadas ao Linha Verde, no ano passado, a polícia conseguiu apreender cerca de 500 balões. A população pode continuar confiando no Linha Verde e na garantia do anonimato.

- Quando alguém identificar uma pessoa comercializando produtos usados em balões ou comercializando um balão, o que ela pode fazer? Denunciar ao Linha Verde é uma boa opção?

R= A população deve denunciar ao Linha Verde através dos telefones 2253 1177 ou 0300 253 1177(para quem estiver fora da capital, com custo de ligação local). Vale lembrar que o Linha Verde é um projeto do Disque Denúncia em parceria com a Secretaria de Estado ao Ambiente. Há 20 anos o Disque Denúncia vem auxiliando a polícia a combater os mais variados tipos de crimes e nesses 20 anos, nunca se soube quem fez a denúncia, ou seja, não há perigo nenhum em se denunciar o comércio, fabricação ou soltura de balões.

- Qual o recado final que o senhor gostaria de passar aos nossos leitores?

R= Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o carinho de toda a equipe do Linha Verde. Esse tipo de assunto é sempre muito importante a fim de conscientizar a população e o Linha Verde vem fazendo um trabalho brilhante. O meu recado final é que as crianças devem receber muita educação ambiental, para juntos, podermos acabar com essa cultura perversa. O balão é bonito, é uma cultura bonita, mas ele causa transtornos enormes e todos corremos perigo. Imaginem um balão caindo aceso em uma casa. Já pensaram que isso pode matar crianças, adultos, idosos? Tudo por conta de um “simples” balão. E se ele cair em uma comunidade?

É importante termos também uma lei mais rigorosa para acabar de vez com esta atividade que tanto mal faz a população. 

O Linha Verde novamente agradece o Coronel Padrone por esse bate papo e, principalmente aos leitores que curtem a fanpage do Linha Verde (www.facebook.com/linhaverdedd) e o site do Disque Denúncia. Esperamos estar contribuindo com informações sobre nosso Meio Ambiente e os cuidados que devemos ter.

LINHA VERDE, o Disque Denúncia do Meio Ambiente !