Disque Denúncia


Linha Verde auxilia a Polícia no combate ao tráfico de pássaros silvestres


38 milhões de animais silvestres são retirados de seus habitats, para serem vendidos em sua maioria, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

08/04/2016
Linha Verde auxilia a Polícia no combate ao tráfico de pássaros silvestres

Nos últimos meses, o Linha Verde, projeto do Disque-Denúncia específico para recebimento de denúncias de crimes ambientais, tem se deparado com diversas denúncias sobre guarda e comércio de animais silvestres, e, obviamente, muitos desses casos envolvem um crime ainda maior e mais expressivo, o tráfico de animais silvestres. Esse talvez, seja o motivo fim para que pessoas ainda mantenham aves silvestres em cativeiro, sem autorização de órgão ambiental competente.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (Onu), o tráfico de animais silvestres é a terceira atividade ilícita mais lucrativa do planeta, perdendo apenas para o tráfico de drogas e para o tráfico de armas. A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) estima que esse tipo de tráfico movimente mundialmente cerca de dez bilhões de dólares por ano. Segundo o Renctas, cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados de seus habitats, para serem vendidos em sua maioria, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Brasil ocupa um lugar de destaque nessa questão, movimentando aproximadamente quinze por cento desse comércio ilícito, o que equivaleria a cerca de um bilhão e meio de dólares ao ano. Por possuir uma das mais ricas biodiversidades do planeta, nosso país é também um dos mais visados pelos traficantes.

A lei nº 9.605/98, determina a pena de detenção de seis meses a um ano e multa para o crime de “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”. O tráfico de animais silvestres é uma apropriação indevida de um patrimônio que pertence ao Poder Público e à sociedade, pois o animal silvestre e os seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedade do Estado. A fauna silvestre é um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida.

A existência do tráfico de animais silvestres, no entanto, obedece a uma lógica ao mesmo tempo paradoxal e perversa. Na maioria das vezes as pessoas adquirem um desses animais para simplesmente se darem ao deleite de tê-los em casa, ignorando as consequências negativas que isso pode ter para o animal e para o meio ambiente. Há casos em que o sujeito realmente acredita estar fazendo um bem ao próprio animal ao criá-lo perto de si, achando que isso é uma demonstração de amor pelo mesmo. Porém, um canário que costuma viver em torno de 10 anos, se estiver em cativeiro, dentro de gaiolas, raramente passa dos 5 anos.

Perguntado pela equipe do Linha Verde sobre isso, o Coronel André Vidal, comandante do Comando de Polícia Ambiental (CPAm) informa que os pássaros que sofrem maior incidência de comércio desses animais no Estado do RJ são: trinca ferro, pixoxó, coleiro, canário da terra, tiziu e curió. Segundo Vidal, um coleiro, por exemplo, pode ser vendido por R$ 500.

 Alguns desses pássaros possuem inclusive anilhas, o que os fazem ser “licenciados” pelo IBAMA ou possuem anilhas adulteradas, e quando participam de torneios de canto, possuem seu valor aumentado. Nesse sentido, um trinca ferro chega a ser vendido por R$ 300 mil, estimulando assim sua captura.

Há inclusive histórias de pessoas que realizam a troca de um carro por um outro pássaro, como o bicudo. Um estudo feito pelo IBAMA, no 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, mostrou que entre os anos de 1999 e 2000, 82% das apreensões feitas pelo órgão foram relativas às aves.

Das 7535 denúncias ambientais que o Linha Verde cadastrou no ano de 2015, 146 versavam sobre caça ilegal de animais, 651 sobre guarda e comércio de animais silvestres e mais 3619 sobre maus tratos contra animais.

Normalmente os animais silvestres não são cuidados da forma adequada, já que ficam em espaços reduzidos e comem alimentos inapropriados, e pelo convívio com os seres humanos estão sujeitos a doenças que para os animais são fatais. Por outro lado, existe o risco de ataques e de transmissão de inúmeras doenças por parte desses animais em relação aos seres humanos.

Algumas estatísticas apontam que noventa por cento dos animais traficados morrem antes de chegar ao seu destino final, principalmente devido às condições inadequadas em que são transportados em ônibus e em carros particulares. “Em casos em que o Comando de Polícia Ambiental, averigua, após informações do Linha Verde, já verificamos que em sua maioria os animais não chegam vivos aos seus destinos, principalmente pelo mau tratamento recebido durante o transporte, que geralmente é feito de maneira irregular e em gaiolas muito pequenas”, explica o comandante Vidal, do CPAm.

Muitas vezes os animais ficam escondidos em caixotes ou em malas sem iluminação e ventilação, além de passarem dias sem tomar água ou ingerir qualquer alimento. O traficante muitas vezes faz o animal ingerir drogas ou bebidas alcoólicas, para fazê-lo parecer manso e torná-lo mais comerciável, e outras vezes ele o mutila ou cega. Os pássaros têm as asas cortadas para não poderem fugir e têm os olhos furados para não enxergarem a luz do sol e por conseqüência não cantarem, o que despertaria a atenção da fiscalização, ao passo que outros animais têm as suas garras e dentes serrados para se tornarem menos perigosos.

Na verdade, por conta da globalização e das altas cifras envolvidas o tráfico da fauna silvestre se modernizou e passou a adotar as mesmas estratégias e rotas do tráfico de drogas. Para se ter uma idéia, basta dizer que a arara-azul-de-lear custa sessenta mil dólares, um Melro chega a ser vendido por dois mil e quinhentos dólares. O valor dos pássaros é variável por conta da raridade de sua localização e pela qualidade do canto.

 O QUE PODEMOS FAZER ?

A luta em prol da preservação da nossa fauna e flora silvestres, já envolve, felizmente, um grande número de pessoas conscientizadas e de organizações. Para ajudar as autoridades e a própria natureza, o projeto Linha Verde, do Disque Denúncia, vem disponibilizando seus telefones 2253 1177 (capital) ou 0300 253 1177 (interior, custo de ligação local) a fim de que a população possa denunciar qualquer crime ambiental com a certeza do anonimato garantido. Denunciando guarda e comércio de animais silvestres, você contribui para que essas aves se mantenham em seus habitats naturais. O lugar deles é na natureza e não em gaiolas.