Disque Denúncia


Disque Denúncia do Rio fica mais eficiente no combate ao crime


 “A ideia de consolidar o trabalho é muito gratificante porque o Rio é pioneiro e a experiência do Disque Denúncia foi tão boa que foi ampliada pra outros estados.” 

 
01/11/2012
Disque Denúncia do Rio fica mais eficiente no combate ao crime

 Quando começou a trabalhar na organização não-governamental Disque Denúncia do Rio de Janeiro, em 1996, Adriana Nunes tinha apenas 23 anos e carregava um recém-conquistado diploma de jornalismo. Sua ideia, comum a todos que são jovens, era mudar o mundo. E a ferramenta que havia escolhido para isso, em uma cidade onde notícias sobre crime incorporam o cotidiano, foi a informação. Dezesseis anos depois, ela usa a mesma ferramenta para contribuir com o projeto de mudar o mundo, só que de uma forma diferente: em vez de produzir notícias, ajuda a ação da polícia com Business Intelligence.

Há cerca de três meses, o órgão, hoje coordenado por Adriana, contratou os serviços da consultoria brasileira na área de governança de TI Path para a implantação da Tableu, um software de análise de dados criado na universidade norte-americana de Stanford, ao mesmo tempo em que, na sala ao lado, Sergey e Larry Page produziam o que hoje é o maior sistema de buscas do mundo, o Google. Foram investidos R$ 40 mil no projeto, um valor, conforme explicou  a executiva, extremamente baixo para o retorno alcançado. “Para reduzir a distância entre o crime a solução fundamental é agir com a maior rapidez possível”, contextualizou. Se antes cada analista demorava de uma semana a dez dias para extrair informações dos dados, hoje, pesquisas mais simples levam 15 minutos. As mais complexas tomam um dia de trabalho. Assim, a produção por pessoa passou de cerca de três mensais para uma por dia, ou, no máximo, a cada dois dias.

“O sistema antigo era muito artesanal”, contou, detalhando que a ferramenta anterior para base de dados era amparada em SQL. Os dados das 12 mil denúncias recebidas mensalmente e inseridas no sistema não permitiam, por exemplo, a estratificação de tipos de crime em uma mesma ocorrência. “Se havia uma denúncia de tráfico de drogas e uso de arma de fogo, eu não conseguia colocar essas duas informações. Era preciso inserir a principal”, contou Adriana. Agora, é possível relacionar diversas ocorrências a um tema principal e extrair informações estratificadas, de acordo com a necessidade.

Desenvolvido por um cientista da computação da Universidade de Stanford, junto a um executivo da Pixar, a tecnologia da Tableau nasceu com um conceito baseado na visualização de imagens a partir da computação gráfica, gerada por meio de uma nova programação, a VizQL, patenteada pela própria Tableau. A plataforma substitui textos por imagens, se adequando à forma e ao modelo que o usuário julgar mais simples para construir sua análise.

“A pesquisa está muito mais assertiva, posso eliminar, ou incluir dados, de acordo com palavras-chave”, contou. O rápido resultado das buscas também permite uma interação mais rápida com a polícia e imprensa, órgãos que são alimentados com informação da organização não governamental. “Se a polícia acaba com uma cracolândia, eu consigo saber para onde os usuários estão migrando, por conta das novas denúncias que vão surgindo”, comentou. “Em três meses já tenho resultados fantásticos, porque à medida que tenho esses dados, forneço para as entidades policiais, que ficam diante da identificação do problema”, afirmou, garantindo que a solução, por possuir uma interface intuitiva, foi de fácil instalação e manuseio. “Não precisa ser expert em informática ou ter grandes conhecimentos”.

Descoberta

O software não foi descoberto pelo Disque Denúncia, mas oferecido pela Path. A própria representante nacional da solução passou a comercializar o serviço em maio deste ano, após ser procurada pela empresa que criou o sistema. “Como trabalhávamos com Business Analytics, a empresa viu que estávamos alinhadas com a proposta”, contou Verônica Simões, diretora da Path. “A Tableu é uma nova geração de BI. Lembra quando tinha Yahoo e  chegou o Google? A Tableu está desbancando o conceito de BI que não consegue integrar nada e gasta uma fortuna para elaborar o data warehouse”, contou, garantindo que, assim que começou a representar a solução, interrompeu a comercialização de pacotes antigos.

“Não tem como eu oferecer para o meu cliente, porque além de a Tableu ser muito funcional, ela é mais barata e demanda menos consultoria”, comentou. Já são 20 projetos com o sistema no Brasil, entre eles empresas como o Banco Bradesco. A implementação no Disque Denúncia, por exemplo, durou apenas dois dias. “Eu perguntei o que a Adriana precisava para resolver seu problema e mostrei a solução em dez minutos, na frente dela”, contou.

Ferramentas convencionais possuem custo de licença e somam a disponibilidade de consultores durante o projeto. “Apenas a licença custaria R$ 500 mil, R$ 300 mil. O projeto inteiro com Tableu foi R$ 40 mil”, comparou. Outra análise,  quando comparada com o Click View, mostra que cem usos simultâneos da ferramenta cairiam de R$ 20 milhões para R$ 1 milhão com o Tableu.

O sistema integra dados estruturados e desestruturados, além de fazer uma auditoria em informações incoerentes no banco de dados. “Ele quebra paradigmas junto da TI que não precisa mais fazer todo o trabalho por trás dele. Ele mesmo sugere os cubos [extratos de análises]”.

Futuro

A ideia é, agora, integrar o banco de dados do Disque Denúncia com o da polícia civil e da Secretaria de Segurança Pública, além de permitir que as análises de dados sejam feitas de forma online nas delegacias e batalhões. O projeto deve ser iniciado em 2013. “A ideia de consolidar o trabalho é muito gratificante porque o Rio é pioneiro e a experiência do Disque Denúncia foi tão boa que foi ampliada pra outros estados.”

A ONG também estuda aceitar denúncias vias redes sociais, hoje utilizadas para passar informações para a população. Mas a decisão ainda depende da capacidade de utilização dos dados que chegarão pelas ferramentas. “A sensação que temos aqui é de vir todos os dias e poder salvar uma vida, tirando alguém de um conflito, de um ciclo de violência”, finalizou Adriana.